(Crônica do Natal de 1996)
A mais hedionda das
aparições:
Marimbondos, rãs, sapos e
algumas lontras. Também lesmas
escorregando na mesa
preparada para o jantar.
A noite fatídica
das queimas de velas
A dor dos sinos açoitados na
carcaça fria de aço
O cheiro desolado partindo
dos bueiros.
Uma noite de natal na casa
sem datas,
No sobrado de poucas luzes e
quase sem janelas
sem marquises e sem calhas.
A ante-sala onde as
almas esperam a ceia
reclinadas no espaldar puído
das cadeiras
ou andando nervosas de lá
para cá.
E passos rangendo nos
degraus:
É a Ausência quem chega
usando roupa de gala
com seu vestido de brocado,
guizos e cetim.
Tocaram oboés
quando as almas se sentaram
E todas esconderam as faces
em choro enquanto,
vagarosamente, estendiam
guardanapos negros sobre o colo.
A Ausência era uma espécie
de vulto encarquilhado,
de pele rugosa envelhecida
pelo esmalte da eternidade;
Reinava absoluta no casario
onde os inquilinos jamais podiam se amotinar.
O estupor das
fazendas, as articulações com bursite
E a catequese tentando
imputar aos sentidos a nulidade dos vínculos de afeto,
todo passo sobre a ponte,
todo elo transcendente.
Escolha sua malta, sua
caserna e o desejo puro.
Embrenhe-se nos orifícios
intra-moleculares,
A ortodoxia das estruturas
dura pouco: Sistêmico porvir.
O teorema não tem
brilho; de veios se reveste o espírito
e de mudas inevitáveis em
desespero apodrece – Crava,
crava uma guirlanda em tua
porta.
Como dois ventrículos,
também dois mundos.
Duas ceias, duas cabeceiras,
dois escuros.
Duas mãos sobrepostas, dois
olhares.
Dois silêncios, duas dores: duas noites
desconjuntadas de natal.
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Do meu livro Silêncio Suspiro Saudade (Inédito)
Registrado na Biblioteca Nacional do Brasil N 279.089
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Do meu livro Silêncio Suspiro Saudade (Inédito)
Registrado na Biblioteca Nacional do Brasil N 279.089
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