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21 novembro 2011

Aves

Ali de tocaia, sem um pio
tão mudas como ladrões em cima do muro
prontos prá pular no quintal

sem quebrar um graveto
com um pé esmagando a hortaliça - um croc apenas -
e o outro suspenso no ar para não fazer barulho

Tem capuz preto e a cara pintada de carvão
Tem as mãos grandes como dessas iguais de fazer carícias
em vão.

Já encosta o nariz na janela
Fazendo um baço no vidro com o respiro quente
Desses de hálito quando alguém se beija

Nenhum pio na árvore. Nenhuma asa fora do ninho.
E o ladrão ainda não arrumou coragem para entrar
A compota de abacaxi vai curtindo na prateleira da cozinha

Escuto uma luz que baixa, são os retalhos
do livro se fechando
Ou o bafo quente que na janela evaporou.

Desistiu o ladrão de entrar em casa. Nada carregou
Mas deixou suas luvas enormes caídas no quintal
e quando encontrei, olhei para a janela

- A mancha tinha mesmo evaporado
Ficou um negócio parecido com beijo, não beijo de verdade.
Mas barulho de beijo igual a aves que dormem sem um pio.

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