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06 julho 2010

Coisas estranhas

Parecia noite - e era.

Ele não olhou nos próprios olhos enquanto se barbeava.
Concentrou-se na espuma que caía devagar no peito como uma lamúria.
Mas tinha pressa: já era mais de uma da manhã.

Banho tomado, pele cuidada, roupa vestida e taxi à porta.
Pediu para fumar, o que o taxista negou. Tudo bem, dez minutos apenas.
Mas não esperou, desceu na metade do caminho e fumou três cigarros.
Na quadra seguinte, chamou outro táxi. E derrubou a cerveja no colo:
Foi-se embora o cheiro de banho.

Era noite, mas pouco importava. Alguns bares depois, na balada,
estava no fumódromo parado olhando a janela vizinha:
Cerrada, mas com uma luz de penumbra fazendo lua como se estivesse
na praia - daquelas luas meigas, aconchegantes e propícias a coisas de afeto.
Apagou o cigarro e voltou para dentro. Melhor mudar o rumo da prosa.

Era manhã. De fato era.

Chegou em casa. E ainda bem que o cobertor era quente e sua janela nada dizia
a respeito de praias, nem lua ou tampouco coisas de afeto.
Dormiu.

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