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18 novembro 2014

dois ou três passos na abissínia

imóvel. tudo que aqui circunda padece de silêncio e imobilidade. mas não são cousas aleijadas de movimentos, nem privadas de vida. pelo contrário: se tão vivazes, se tão e quanto mais lépidas, velozes, atrozes. se ágeis, sim forasteiras. o gato, consegui dele plasmar o salto. e aquele gato, que olhava, onde via, me atrevi a ver também. do pulo. não, não saltei. recolhi a hora que sua pata era um vôo - aquele então, aquele bálsamo, aquele alto. antes de pouso. o vento. da boca se calando, arrependida de chamar um nome.

penso neste lugar, uma varanda, uma pérgula, um caixote, balão de gás - cesto de vime, três pessoas dentro: lenços alvos em prumo. o céu nunca foi tão azul. nem o sol tão árduo. nem a vida, tão breve. e o gato, o gato. o gato um pássaro.

imóvel. minha mesa nunca foi tão alada. a criatura assim, outra vez aquele adágio. a beira, a varanda. o deserto -- tomei a liberdade de buscar dos pássaros o chilrear inteiro e do gato, não o miado. dos gatos de relap~]ao o bigode me cingindo a perta - que nem bisturi, que em linha costurando a barra do vestido, o punho da camisa.

tudo que agora circunda, me circunda. é o baile, é a janela. é a noite já em casa quando se caminha de meias para não fazer barulho. e quando se deita, no escuro, um pulo. como se um gato caísse na coberta. mas não é o gato. é o deserto amarelo, cadente. quem se aderrama, três da tarde, quente. igual ao ronronar de um gato. que ligeiro, faceiro, se aninha no meio dos pés. como se fosse uma varanda. e abrisse - festeiro, confiável, amigo. uma tarde através da abissínia. duas janelas abertas, duas casas esbaforidas. chaleira, chalaça,chamego.

a areia - aquela não cobriu o vinhedo, aquela de canto que não serviu para nada: viu as lantejoulas, viu o burburinho. Cinco da manhã. e o deserto é o deserto. Os gatos, os gatos uivam na vleha e concida madrugada.

 

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