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20 março 2011

Cisnes - Um Requiem

Já entre os intervalos
Ou justamente nestes
Quando os preâmbulos ficam dolentes
Na escuma das folhas
A sombra despeja uma nódoa no gorjeio
Trinam ecos
Repercutem
Estertam
E finalmente se calam

É inaugurado sem pompa nem circunstância
O ato final: silêncio profundo
Das asas tamborilando o chão
- de gravetos tortos, de ramos rotos.
Até os regatos se calam; as cotovias viram as faces condoídas
E inclusive as formigas cessam sua procissão.
Deitam os cisnes, exustos, no travesseiro de bruma
E a noite, a noite invade o que já deveria ser dia
Para lhes render uma última homenagem.

Carrega atado nos dedos
Uns guizos sem barulho
Uma espécie de guirlanda faiscante
E feito corola a depõe cerimoniosamente ao lado.
Vai-se a noite caminhando ressabiada
E já longe, ao virar-se,
Estala qualquer coisa parecida
A um relâmpago, uma claridade. Faz nascer no último breu
Uma constelação de astros ululantes.

Raia o dia - Que no primeiro bocejo
Abre os olhos escandalizados de horror: Cairam os cisnes alvos!
E ao lhes render prece, entrega um azul transparente
Faz um zênite assafirado como nunca antes na mata se viu.
Chama nuvens, e estas recobrem a paisagem imitando gansos, falanges inteiras de pássaros
E os pássaros do mundo inteiro chegam também
Com tanta fleuma, com tanta cerimônia
Que fazem um tufão, um redemoinho, um levante de universos aéreos.
Então o mundo e os cisnes vão viver noutro lugar.

2 comentários:

  1. Incrivél...adorei seus pensamentos...Além da Arte...Temos muito o que trocar...Abraço
    Samara Egle

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  2. Olá Samara,
    Obrigado pela visita e pela mensagem.
    Abração.

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