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15 julho 2010

Relicário

Perdi a bicicleta. E perdi as sendas também
E junto a elas, as paisagens:
crespadas, obtusas - doces

Perdi o rosto da minha mãe.
Hoje é um arrepio que vagueia no mar
ou num vento na rua deserta.

Perdi, dela, a voz
E o eco, ah como é pobre
marulho, ventuinha, uma asa

Perdi minha casa e os móveis ficaram ali
Exilados ao sopé do cadafalso
Quase mártires

Sem bandeirolas sem fogos espoucantes
Murchos na neblina
Pestilentos como carrapatos na sarjeta.

Perdi sonhos e perdi miragens. E tudo mais
que guardei como tesouros - o novelo de linha, a caixa de costura;
os retalhos da manta de lã.

A esquadra afundou com meus tesouros de plástico.
O mar fundo era só esta concha de mão
onde, a rebouque, trazia pedacinhos de papel.

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