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02 abril 2010

O labirinto silencioso

Três da tarde.
Ou talvez fosse um pouco mais cedo, quem sabe madrugada.

Lembrou ter regado as plantas; deu uma volta pela casa, arrumou o porta-retrato,
corrigiu a cortina.

Fosse madrugada, sairia pelas ruas, encontraria beijos alucinados de amores convulsos. Mas o crepúsculo ainda não se anunciara.

Trocou os andrajos rotos por vestes tortas. Em escuros óculos escamoteou olhos vesgos. E construiu enorme muralha.

Parou na esquina com seus andrajos pobres e perfumados. Entrou no taxi, sumiu na fumaça da cidade poluída. passou pó na cara.

Tomou uma cerveja, passou para gim tônica. E no meio do caminho, deu uma lambida em qualquer dog cheirando a cão molhado - e nem chovia.

Voltou para casa, ajeitou a cortina. E dormiu cheirando a saliva de beijos prometidos e sussurados.

Três da tarde.

2 comentários:

  1. Olá Bento, estudo cinema e discutimos este seu texto em classe. Ele é carregado de imagens e possui uma força poética imensa.
    Estamos doidos para que você desenvolva e dê sequencia a esta personagem.

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  2. Cláudia H de Mello - SP10 de abril de 2010 às 16:02

    Bento, que coisa linda... Linda mas ácida, porém, não menos belo.
    Também fico imaginando os próximos passos desse alguém. Por favor continue...

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