Depois das lonjuras, voltar para Casa - Habitar-se novamente
E como quem regressa ao lar, abrir as janelas e descortiná-las; hora de abrir os armários, de desempoeirar os móveis. De reunir no quintal as louças para lavar no tanque.
Quarar roupas no gramado, ligar novamente o rádio - cantarolar músicas novas.
Retirar dos caixotes as coisas velhas. No silêncio redimir-se do que se quebrou, apiedar-se com
os cacos mas não insistir em uni-los: Conviver com as trincas e as rachaduras - que o tempo trate de uni-las. Ou então que as sopre vagarosamente.
E há o instante do perdão, anuir com os pés que calcaram alguns ramos despedaçando talos verdes. Semear canteiros. Parir outros frutos
Deixar partir os retratos imóveis, os afetos longínquos:
Que existam sem assombros - Assim existirão para sempre na fagulha
cintilante da memória.
Casa, doce casa de um existir
Cá estão reunidos os despojos - Rente aos desvãos
alçar asas
suspiro andante
peregrino
de rosto firme
Alevantando amizades partidas
Acenando risos quietos
de alguma coisa feito paz
serena e morna
que chega e fica:
Não como dia escaldante
Mas de meia-sombra quando
descalçados, os pés tocam o chão
e se deixam ali ficar
por mais um minutinho ainda.
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